A gama de modalidades de lutas no Brasil varia muito, de acordo com a realidade e a conjuntura da região, da cidade, e da escola. A diferença entre uma cidade mais populosa e cidades de áreas menos desenvolvidas pode ser muito grande no que se refere a opções de prática de lutas e artes marciais.
Os PCN's não determinam qual modalidade de luta é a melhor ou a mais indicada para as aulas de educação física. Fica o professor responsável por decidir a escolha da modalidade de luta que será ensinada. E, se o professor, ao chegar neste ponto, não tenha compreendido o significado das lutas, enquanto componente da Educação Física Escolar, talvez não compreenda se será necessário escolher uma, duas ou três modalidades de luta. E quais deverão ser escolhidas: as mais conhecidas na cidade e na região? Ou somente as modalidades olímpicas?
Assim como ocorre com os esportes (Futebol, Handebol, Basquetebol e Voleibol) serão escolhidas as modalidades que são mais populares? Os alunos conhecerão, então, apenas a Capoeira, o
Karatê,
Judô e o
Taekwondo? Por qual critério? Por serem os mais conhecidos, os mais fáceis de aplicar ou por fazerem parte do contexto local? É o professor que escolhe desenvolver Futebol com seus alunos, ou ele não tem outra opção, porque em sua escola só existe uma quadra para essa modalidade esportiva, e porque sua formação enfatizou demasiadamente os esportes populares e não foi satisfatória nas outras modalidades?
Se no momento de escolher as lutas optar apenas por algumas modalidades mais comuns na conjuntura local, os alunos continuarão a conhecer a Esgrima, o
Aikido, e o
Kempo, como um esporte "da elite rica", que mora nas cidades maiores e dispõem de condições financeiras para freqüentar e comprar os equipamentos necessários à prática dessas artes. Meu aluno conhecerá o Boxe apenas pelo Rocky Balboa (personagem do popular filme "Rocky V", 1990, ficção sobre a vida um pugilista) e Myke Tyson (ex-pugilista peso-pesado norte-americano)? Não será algo de se impressionar se a única percepção quanto ao Boxe seja a de um esporte violento, pois a construção da sua opinião é feita apenas com essas fontes.
As opções de escolha de lutas serão restritas, principalmente em cidades menos favorecidas, se o professor optar por escolher entre as modalidades disponíveis no local. Em algumas cidades existem apenas duas ou três modalidades diferentes. Em outras nem isso. Serão os alunos destas cidades fadados ao desconhecimento? Devem se conformar com o que assistem em filmes e programas de televisão? Ou o professor procurará outros meios de inseri-los nesse mundo, ainda que de forma lúdica, através da fantasia, ou de formas simplificadas das lutas?
Qual modalidade atende melhor às necessidades de meus alunos. O
Judô? A Luta Livre? O
Boxe é menos pedagógico que a capoeira? A Capoeira seria mais adequada porque os golpes são desferidos sem que haja contato físico, e ainda pode ser trabalhada como uma dança, sem riscos. Vale-Tudo,
Muay Thai, são impróprios para aulas de Educação Física? As modalidades que possuem golpes de percussão (golpes de bater com os punhos, pés, cotovelos, etc, muito comuns no Caratê e modalidades similares) devem ser excluídas?
Deve-se estabelecer um critério para a escolha das modalidades a serem trabalhadas? Esse critério deve ser discutido em relação à necessidade do aluno ou ao contexto local?
Em se tratando de temas transversais, como a "pluridade cultural", o trabalho com modalidades diferentes possibilita conhecer e fazer uma reflexão comparativa e crítica entre o nosso país e os outros povos e nações, pois as lutas são também uma forma de difusão das culturas dos seus povos de origem.
Também é preciso afastar preconceitos na hora de escolher. Algumas pessoas podem ver o
Boxe, a Capoeira e o Vale-Tudo como uma prática marginal e perigosa, inadequada como conteúdo escolar. Primeiramente, não se trata de realizar as lutas entre os alunos. Trabalhar esses conteúdos, ou essas lutas, também significa proporcionar oportunizar uma discussão e o entendimento sobre as lutas. É possível também propor pesquisas sobre as artes marciais ditas menos adequadas ao contexto escolar, e outras formas que permitam a eles conhecer essa parte do mundo esportivo.
Há, entretanto, alguns autores que defendem uma modalidade de luta, integrada ao currículo escolar. Segundo o presidente do Conselho Superior de Mestres de Capoeira e Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Capoeira (CBC), a Capoeira é uma das práticas mais adequadas para a educação e formação de nossas crianças:
A Capoeira, que é uma atividade genuinamente brasileira e natural, não exige muito espaço, vestimentas ou sofisticações para sua prática. Ela promove o lazer e desperta outros interesses centrados na música, na dança, no folclore e no ritmo. Acém disto, a Capoeira é um instrumento de grande poder de socialização e ajuda na melhoria da auto-estima de nossos jovens e crianças, sobretudo aqueles considerados excluídos, como negros, pobres, crianças de rua e deficientes físicos.
O que sugere já é feito com outras artes marciais em seus países de origem. O
Taekwondo, na Coréia do Sul, é considerado esporte nacional e tem seu ensino obrigatório nas faculdades, escolas e Forças Armadas.
Além do desenvolvimento da Capoeira nas escolas, importante também, é considerar as lutas como um todo, um conjunto de manifestações culturais históricas, que deve ser aprendido. Além da vivência nas modalidades mais comuns, também é importante para o educando conhecer a dimensão desse universo, complexo e diverso.
Já foi apontado no item "Concepção", no capítulo "LUTAS E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR", deste estudo, que as lutas podem ser encontradas nas escolas inseridas no planejamento do professor de educação física ou de forma extracurricular. O trabalho extracurricular sugere que o ensino ocorre dicotomizado de um planejamento maior do currículo escolar. Mas, por outro lado, imagina-se que esteja adequado à proposta do projeto político-pedagógico da escola. Então a questão seria verificar se a proposta político pedagógica partiu de uma interpretação adequada dos Parâmetros Curriculares Nacionais e se realmente atende as necessidades pedagógicas do educando.
Para a forma curricular o professor possui muitas possibilidades. É possível escolher trabalhar com quantas lutas diferentes o tempo disponível permitir, e de maneiras diferentes. As regras podem ser adaptadas às necessidades do contexto escolar. A escolha da luta vai depender do conhecimento do professor e das condições da estrutura física da escola. Por outro lado existem muitas formas de contornar problemas de falta de material. A falta (de tatames, equipamentos de proteção, etc) pode se tornar em uma alternativa de aula. Trabalhar com os alunos a construção desses materiais, pode oportunizar o envolvimento com os mesmos conteúdos que seriam desenvolvidos em uma aula dita normal. Além de construir os materiais, os alunos iriam aprender para que servem e como usá-los. Isto também é conteúdo de lutas na Educação Física Escolar, e amplia os conhecimentos dos alunos relativos as lutas.
Quanto à falta de habilidade técnica, é possível recorrer a especialistas da comunidade, quando houver. Solicitar a um professor de academia que dê uma demonstração, ou realize uma apresentação junto com praticantes da arte marcial também pode ser uma alternativa para estimular os alunos antes do professor ministrar suas aulas.